Cadê aquela cabine do tempo, dos filmes e daqueles desenhos animados? aquela que os personagens recorriam quando tivesse algum erro no percurso ou falha depois de uma crise existencial. Cadê ela fora da ficção e fazendo parte da nossa realidade?Trágico. Em pleno século XXI e nenhum cientista maluco foi capaz de inventa-la, quem dirá encontrar a cura para corações partidos.
É disso que sinto mais falta, de quando os filmes e desenhos animados era meu único passatempo, de quando eu era terrível e ninguém me aguentava. Saudades do tempo da escolinha,das minhas corridas pela casa, dê quando tudo era brincadeira, dê quando me escondia para não me acharam e também das minhas birras por bobagens. Sinto falta de toda aquela magia, eu podia ser quem eu queria e se caísse eu ria e mamãe logo vinha com o curativo pra sarar.
Faz falta aquelas manhãs de sábado chuvosas em que pegava meu cobertor e ia pro sofá assistir tv. Tenho saudade de caber no carrinho de compras do supermercado,de quando cabelos brancos era só coisa da cabeça dos outros. Recordações melancólicas ainda se abrigam em mim como o abraço do vovô e o beijo na bochecha da vovó, de quando pegava os saltos da mamãe desejando crescer logo e que toda aquela falta do que fazer na infância passasse e de tanto desejei que passou. Em um piscar dos olhos minha infância desapareceu,toda a magia se acabou.
A realidade bateu na porta e eu não estava pronta para abrir, fui forçada a encara-la muito cedo, ambicionei tanto que no final acabei me decepcionando com esse mundo tão sem afeto que é esse de “gente grande”. Minhas roupas encolheram e aquela blusinha da Barbie já não cabe mais. Não tenho mais o joelho ralado e sim o coração esfolado, surrado, enfraquecido e nostálgico pelo tempo que me preocupar era saber o que iria ganhar no dia das crianças. Quando me dei conta meus pais me abandonaram e não seguravam mais as minhas mãos ao atravessar a rua e a atenção não era mais toda só para mim. Quando percebi uma rodinha da minha bicicleta sumiu e tive que aprender a se virar com uma só.
Minha vida já não era a mesma ,percorria o caminho da escola sozinha todos os dias. Mamãe já não me ajudava a tomar banho e nem a pentear meu cabelo. Meu rabo de cavalo era torto assim como meus dentes. Acordei num outro dia e a outra rodinha havia sumido, meus pés haviam crescido e meu babuche da Hello Kitty não servia mais e quando tirei meu pijama levei o maior susto ,meus seios tinham crescido um pouco, não muito mais o bastante para me causar dores suportáveis e usar um sutiã igual das meninas do 6° ano.
Meu corpo mudou totalmente e tinha curvas bem mais femininas, meu quadril se alargou, minha cintura estava fina e minhas coxas bem mais grossas. Estava dando adeus aquelas minhas saias rodadas e lacinhos decorados, dando adeus também a minha mentalidade infantil. Passei a entender a vida e desvendar seus mistérios. Descobri seus lados positivos e seus lados negativos.
Conheci o lado oposto e aprendi a amar - preferia não ter conhecido - ele me levou a ilusão e depois a decepção. Aprendi que quedas não são só fisicamente e também sentimentalmente, hoje que presencio essa fase adolescente meio adulta sei o quanto minha infância faz falta e não suportaria viver se dentro de mim tivesse assassinado essa criança doida que fui.
A minha imensa capacidade de me surpreender com tudo, de me admirar com as coisas, de curtir tudo até a última gota, de fazer festa, de ter amigos, de estar sempre aprontando, sempre em aventuras, sempre na adrenalina, mostra que a minha infância nunca acabou. E sim que apenas cresci.
Atualmente enxergo o mundo de uma forma mais realista e vivo me perguntando que mundo é esse que vivemos que crianças são cada vez menos crianças e vários de nós aqui morrendo de inveja, querendo reviver a infância que já tivemos mais adoraríamos revive-la de novo e de novo e de novo.
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